Avançar para o conteúdo principal

Tigers are Better-Looking

No âmbito do #lerosclássicos2021, li este conjunto de contos da autora caribenha Jean Rhys.



No ano passado, o tema de Julho era um clássico africano ou asiático; este ano, expandindo esta forma de exclusão do cânone ocidental, decidi incluir outras geografias menos lidas: a Oceania e o Caribe.


(acho que nunca li nenhum livro de alguém da Oceania, mas tenho há demasiados anos, por ler, uma compilação de contos de Katherine Mansfield)


De Jean Rhys, só tinha lido Wide Sargasso Sea, que é um livro do qual gostei mesmo muito (mais do que daquele que o inspirou!) e que acho que merece ser lido pelas várias temáticas que aborda: o sentimento de não-pertença, as marcas do colonialismo, a doença mental, a fragilidade feminina na sociedade.


Tigers are Better-Looking está muito longe de ser das obra mais conhecida da autora e, antes de lhe ter pegado, nem sabia que se tratava de contos. Esta edição entrou na minha colecção através do awesome books (choremos pelo Brexit), pois tinha sempre ficado com o desejo de regressar a Rhys, tendo outros dela em wishlist há vários anos - e terei apanhado este barato em detrimento do Good Morning, Midnight, e outros mais conhecidos. Este volume inclui os contos de Tigers are Better-Looking, publicados em 1968 mas escritos parcialmente na década anterior, e uma selecção de contos anteriores da autora, do volume The Left Bank, de 1927.


There is peace in despair in exactly the same way as there is despair in peace.


Tenho sempre particular dificuldade em avaliar conjuntos de contos - seja por ser difícil falar neles perante a sua brevidade, seja por estas colecções não serem, frequentemente, homogéneas. Tigers are Better-Looking começou (para mim) com alguns contos fortíssimos, mas acabei por perder algum do meu interesse a meio, voltando a ganhá-lo e a perdê-lo, sucessivamente.


Em termos abstractos: ambos os conjuntos de contos são emocionalmente densos e devastadores, relatando uma solidão imensa, vulnerabilidade, uma falta de sentimento de pertença que é possivelmente central a todos. A maioria dos contos tem uma protagonista mulher, marginalizada da sociedade, sem aprovação, sem esperança na sua vida que não ligada à atracção exercida no sexo oposto. O mundo, esse, é um lugar cruel, sem oportunidades a oferecer, apenas perigos. Um dos meus contos preferidos foi Let Them Call it Jazz, cuja protagonista, uma mulher caribenha, como Rhys, não tem lugar em Londres, onde chegou à procura de novas oportunidades.


If I could put it into words it might go, she was thinking. Sometimes you can put it into words - almost - and so get rid of it - almost. Sometimes you can tell yourself I’ll admit I was afraid today. I was afraid of the sleek smooth faces, the rat faces, the way they laughed in the cinema. I’m afraid of escalators and dolls’ eyes. But there aren’t any words for this fear. The words haven’t been invented.


4/5


Podem comprar uma nova edição em inglês, com os contos completos da autora, na wook ou na Bertrand



Comentários

  1. Sinto o mesmo relativamente a livros de contos
    Sabias que Jean Rhys é o pseudónimo literário? E que foi casada três vezes?
    Consegues dizer se gostaste mais do conjunto de contos Tigers are Better-Looking ou The Left Bank and Other Stories?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sabia de tudo :p muito do que ela escreve é também baseado nas suas próprias experiências! Teve uma vida bastante "louca", para os padrões da época em particular.
      Diria que gostei mais dos do Tigers, porque gostei mesmo muito dos primeiros!

      Eliminar
  2. Li o Let them Call it Jazz numa colectânea de contos de mulheres, há pouco tempo, e foi um dos melhores. A Jean Rhys tem personagens femininas azaradas e perdidas fabulosas que espero também encontrar nos contos que tenho por cá.
    Não tive tanta sorte no meu desafio. Voltei a insistir nos japoneses, porque queria ver como era a escrita do Osamu Dazai, que só conhecia por ouvir falar do "No Longer Human". Li o "Schoolgirl" e não fiquei convencida nem um pouco.
    Venha Agosto!
    Paula

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. esse conto é magnífico! uma pessoa tão incompreendida, por várias circunstâncias da sua vida e do seu nascimento que não poderia, de modo algum, controlar ou alterar... quero muito ler mais dos livros dela.
      não creio ter ouvido falar no senhor, e fico triste por, mais uma vez, este mês te ter corrido menos bem! talvez aqui os challenged/banned books sejam mais proveitosos :) há tanto por onde escolher!

      Eliminar

Enviar um comentário