Avançar para o conteúdo principal

Bisa Bia, Bisa Bel

O livro que mais me intrigava da Colecção Pererê da Tinta-da-China (só tenho os primeiros cinco volumes, a primeira colecção) era Bisa Bia, Bisa Bel, de Ana Maria Machado, por estar listado nos 1001 Children's Books You Must Read Before You Grow Up.



Este livro, de leitura muito simples (li-o numa tarde) começa com Isabel, uma rapariga pré-adolescente que, enquanto a mãe faz limpezas na casa, descobre numa caixa um retrato da sua bisavó, Bia, que nunca chegara a conhecer. Este retrato exerce sobre Bel um fascínio quase infantil, e ela pede à mãe que lhe empreste o retrato, talvez para que possa conhecer melhor este membro da família que nunca antes tinha visto.

A verdade é que, mais que um retrato, nesta jornada de descoberta, "Bisa Bia" começa a acompanhar Bel, a ser quase parte dela, enquanto Bel vai aprendendo mais da sua família, das gerações passadas, de costumes de outros tempos. O passar das décadas tem o seu peso, e Bel acha que algumas das ideias da bisavó não são mais aceitáveis; as coisas são diferentes e, mais que isso, Bel tem direito à sua própria identidade.

 


Entretanto, Beta, a futura bisneta de Bel decide juntar-se ao conjunto de vozes interiores (daí o "Bisa Bel" do título), numa narrativa que cruza passado, presente e futuro e tenta demonstrar a forma como as coisas mudam e evoluem com o passar das décadas e como, acima de tudo, a identidade pessoal tem muita importância. Assim, cada uma das três com os seus costumes, as suas ideias (em muito definidas pelos seus contextos pessoas, pela época em que viviam), aprendem a comunicar e a entender-se.

Aí estourei:
 - Não me interessa o seu tempo! Quando é que você vai entender que hoje em dia tudo é muito diferente? Eu sou eu, vivo no meu tempo, e quero fazer tudo o que tenho vontade, viver minha vida, sacou, Bisa Bia? eu sou eu, ouviu?
Só que tinha ficado tão furiosa, de verdade, que nem lembrei que toda conversa com Bisa Bia tinha que ser muda, conversa só falada para dentro, que era para ninguém mais ouvir. Se não, iam pensar que eu tinha  ficado maluca. Como eu tinha esquecido disso, estava aos berros no banheiro, gritando:
- Eu sou eu! Eu sou eu!

Além do contexto histórico em que se inseriria Bisa Bia, é também interessante notar a forma como a autora se refere, subtilmente, à ditadura no Brasil e ao contexto repressivo que se vivia na altura.

4,5/5

Podem comprar esta edição na wook.


Comentários