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Alice num mundo real

A viagem de uma Alice para um mundo que não é das maravilhas.


Quando comprei este livro, foi-me dito que era "um livro estranhíssimo"; não sei se por terem sido homens que mo disseram, e este livro retratar uma experiência infelizmente muito comum para muitas mulheres: o cancro da mama.

Alice tem uma vida à qual está habituada: workaholic, tem uma série de amigas, uma ex-namorada, uma amante, um gato. Um dia, descobre que tem cancro da mama, e a sua vida sofre reviravoltas, que acabam por a ensinar que a vida depois do cancro, como diz a capa, "nunca mais é igual... mas vai dar ao mesmo". É, portanto, uma história de luta, de alguém que dá a volta à situação, não obstante a doença, os tratamentos agressivos, a cirurgia. 

 

Nada retira o sentido de humor de Isabel Franc, que nos mostra a sua história sob a personagem de Alice, sem grande dramatismo, de modo muito real. São-nos apresentadas as suas amigas, a sua rede de apoio, é-nos mostrado como estas amigas a tentam ajudar mas acabam por a sufocar, ao cuidar dela da melhor maneira que sabem. É-nos assim mostrado como nem todas as relações sobrevivem a este tipo de doença: porque o cancro pode ser uma doença longa, porque gera sufocos ou desentendimentos, ou simplesmente porque tudo é difícil.

A situação é, portanto, dura, seja pela doença em si, pela forma como os médicos dão o diagnóstico, pela forma como Alice reage, pelo humor que é demonstrado, que pode criar alguma dessensibilização por parte do leitor, que o pode afastar, porque talvez seja necessário passar pela situação para compreender a narrativa, a viagem.

 

De facto, Alice tem sorte: não só tem muita gente que se preocupa com ela e a quer ajudar, mas a cirurgia é feita rapidamente. Consegue manter o seu trabalho, apesar das pressões e de uma chefe que nem sempre compreende as limitações de Alice, e de querer, de certa forma, explorar a sua situação.

Talvez o "estranho" do livro advenha precisamente da sorte que Alice tem, ou da forma como parece afastar-se da doença e manter o seu humor ao longo do processo. Talvez quem mo vendeu não esperasse cenas de sexo lésbico (eu não esperava). Mas é um bom livro, e merece ser lido.

4/5

Podem comprar esta edição aqui.

Comentários

  1. Ahah lembro-me tão bem quando o homem se referiu ao livro como estranhíssimo, como não comprar depois disso?
    Pelos excertos do post fiquei curioso com a Pamela
    Gostei do post, não estava à espera do tema olhando só para a capa mas só me despertou mais a curiosidade, não é um tema fácil, não deve ser um livro fácil mas é uma tema que me diz muito e gostava de ver esta perspectiva das coisas
    Acho sempre relevante conhecer perspectivas de pessoas que falam por experiência própria (é o caso não é? pelo que entendi do teu post), independentemente do tema ser próximo às pessoas (leitores neste caso) ou não, porque há sempre aspectos que se retiram que se podem aplicar facilmente a outras situações parecidas, como a relação com a pessoa em causa (tenha ela cancro da mama ou outro cancro ou qualquer outra doença mais grave), é uma linha ténue e sempre subjectiva entre tentar sempre ajudar e estar presente e sufocar a pessoa com essa ajuda, depende sempre de tanta coisa e muito disso não é controlável, mas ajuda sempre ter uma perspectiva diferente

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    Respostas
    1. Eu empresto-te o livro, rei gatinho! É um tema interessante, claro, e sim, é um livro autobiográfico! Ela fala muito sobre essa linha ténue entre a ajuda e o sufoco, entre o querer fazer tudo e o conseguir fazer, tem muito humor e é muito interessante, acho que irias gostar :p

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    2. Muito obrigado Ba, gostava muito de o ler

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