O primeiro volume da "Enciclopédia da Estória Universal" de Afonso Cruz.
Após o meu falhado primeiro encontro com o autor, a Paula, cujas frequentes visitas a este burgo me deixam sempre feliz, recomendou-me que tentasse uma obra um pouco diferente: recomendou, precisamente, Enciclopédia da Estória Universal - Recolha de Alexandria.
A colecção (será?) da "Enciclopédia da Estória Universal" tem vários volumes, e, segundo compreendo, a Alfaguara Portugal tem lançado um por ano desde 2012. Este primeiro volume tem um "ambiente" mais oriental: sultões, governadores otomanos, Torre de Babel... tocando também em temas como a origem da criatividade de Charles Dodgson, escritores russos, antiguidade grega ou um coleccionador húngaro. Apresenta uma relativamente extensa (dada a dimensão do livro) bibliografia no fim, mas fica difícil separar factos de ficção.
Na verdade, é essa a diferença entre "história" e "estória" - e esta enciclopédia apresenta-se-nos como sendo de estória, logo, ficção.
A maldição de Babel não foi os homens desentenderem-se por falarem línguas diferentes, mas sim desentenderem-se falando a mesma língua.
Em ordem alfabética, como uma boa enciclopédia, este livro traz-nos citações, vinhetas, mitos e outras curiosidades, todas elas peculiares, críticas e humorísticas, que se interligam entre si ao longo da obra de forma curiosa. As palavras e acontecimentos são todos eles visivelmente pensados: todo o mundo relatado nesta obra é pensado, misturando a realidade e a fantasia de Afonso Cruz.
Há explicações de situações nas quais decerto já pensámos alguma vez; há figuras históricas e imaginárias, há citações verdadeiras ou falsas para descrever ou criticar situações ou eventos, por vezes quase infantis (não é fácil discernir o público alvo). É muito menos pretensioso que as outras leituras que já fiz do autor, ainda assim, sendo portanto de muito mais agradável leitura - mas ressalvo que não é particularmente memorável.
Há explicações de situações nas quais decerto já pensámos alguma vez; há figuras históricas e imaginárias, há citações verdadeiras ou falsas para descrever ou criticar situações ou eventos, por vezes quase infantis (não é fácil discernir o público alvo). É muito menos pretensioso que as outras leituras que já fiz do autor, ainda assim, sendo portanto de muito mais agradável leitura - mas ressalvo que não é particularmente memorável.
Umit Arslam era um governante que roubava aos ricos para dar aos pobres. Antes de morrer apedrejado, disse: “Foi a roubar que eu consegui uma vida honesta”.
(...)
A definição de governante é exactamente o oposto do que Umi Arslam fazia. Um governante não governa, governa-se.
A definição de governante é exactamente o oposto do que Umi Arslam fazia. Um governante não governa, governa-se.
Sendo parte de uma série denominada "enciclopédia", importa referir que este volume em particular vai do A ao Z, um volume que se encerra em si só, não sendo portanto necessário fazer a continuação da série. Os outros volumes disponíveis são, a saber (e sem ordem específica): Arquivos de Dresner, Biblioteca de Brasov, Mar, Mil Anos de Esquecimento e As Reencarnações de Pitágoras.
4/5
4/5
Podem comprar esta edição aqui.
Aaah, obrigada!
ResponderEliminarMas olha que 4 em 5 é bastante bom; é o que costumo dar-lhe.
Às vezes, não sei explicar por que gosto de uns autores e de outros não, mesmo reconhecendo a sua competência. O Afonso Cruz encanta-me e até consigo fazer vista grossa à inverosimilhança. Acho estas enciclopédias muito bem conseguidas, com um universo muito próprio, e os aforismos fazem-me sorrir, mesmo quando são mais ingénuos e óbvios. Como resistir a frases destas? "Ler é uma maneira de ser. Tal como os homens usam roupas, a alma usa livros."
Só tenho duas, mas gostava de ter a colecção toda! Ter um fraquinho por hardbacks também ajuda.
Paula
Dou créditos a quem os merece :)
EliminarO meu problema, até agora, com Afonso Cruz, têm sido os finais (Princípio de Karenina terá review em breve) - parece que o livro é construído num sentido, e o final depois toma um rumo diferente, quebra tudo, não funciona para mim. Este achei engraçado, talvez por não "depender" desse tipo de estrutura...
Tenho "Arquivos de Dresner" na estante, à espera :) quais os que tens?
Vou querer ler essa review do mais recente dele, pois só devo chegar a ele daqui a uns anos. Quero ler os mais antigo primeiro. Também é a de Dresner que tenho.
EliminarE, já que gostas de livros infantis, já leste algum dele desse género? Eu não, mas hei-de ver lá na BLX.
Paula
Infantis mesmo, não - só o mais juvenil dos livros que devoraram o pai. Fico a aguardar a tua opinião sobre esses - confesso que o meu desencanto com o autor não me puxa muito! A review estará para breve, prometo :)
Eliminar'Foi a roubar que eu consegui uma vida honesta' epa muito bom; só por essa dica já vale
ResponderEliminarInteressante, o teu destaque :$
EliminarTenho uma encicenciclopédia de AC mas é outra mas ainda não li. Gostei da Boneca de Kokosca (não sei se é assim a ortografia) os outros 2 dele já não me impressionaram e os maiores dele nem tentei até agora.
ResponderEliminarQual o volume, Carlos? Esse ainda não li, mas o que li do autor também não me impressionou particularmente. É pena, porque parece ser um autor muito consensual, em geral, e muito apreciado.
EliminarNão conheço o autor mas confesso que não sei se fiquei curiosa pelo teu comentário de que ele vira os finais em sentidos contrário aos dos livros.. Fico mesmo chateada quando passo o livro inteiro a achar que o livro vai acabar de uma forma e depois ele acaba de uma que não faz o menor sentido.
ResponderEliminarhttp://www.sonhamasrealiza.pt
Olá, Armanda,
EliminarO teu comentário deixou-me a pensar porque, de facto, acho que o que me apoquenta na obra de Afonso Cruz ("Os livros que devoraram o meu pai", de que tenho review publicada, e "Princípio de Karenina", que publicarei em breve) é essa questão dos finais. Não a sua imprevisibilidade, mas o facto de não fazerem muito sentido no seguimento da narrativa. Em ambos os livros que menciono, o autor constrói um mundo e situações, para depois os encerrar sem explicação, num final pouco congruente. Acho que é isso!
Confesso que gosto imenso de Afonso Cruz e um dos meus preferidos é o "Jesus Cristo bebia cerveja" :P
ResponderEliminarHei de pesquisar na biblioteca :) talvez esse me conquiste!
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