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Guadalupe

Livro que me tinha despertado imensa curiosidade quando o vi na Kingpin Books.


O motivo principal era, confesso, a minha leitura de Angélica Freitas há não muito tempo - e querer saber como era o registo "novela gráfica", sabendo já como era o registo poesia. Aqui, o texto é de Angélica, e as imagens de Odyr, seu conterrâneo.

Guadalupe é um livro com personagens únicas, sem dúvida: Elvira, a avó motoqueira; Minerva, o tio transformista; e Guadalupe, que dá o nome à obra, uma rapariga prestes a fazer 30 anos, que trabalha com Minerva numa loja alfarrabista e que só quer fugir da sua vida.

A narrativa passa-se na Cidade do México; Elvira revela à sua neta que quer ser enterrada em Oaxaca, sua terra natal, e que quer que seja alguém chamado Juana a tratar do funeral e da música fúnebre. Com a sua morte inesperada, começa uma "roadtrip fantástica": é Guada quem conduz o camião da livraria, logo, é ela quem pode levar o caixão para cumprir o último desejo da avó, levando Minerva e o seu poodle.

 

Quando Minerva é hipnotizada por um jovem que se diz guatemalteco e está envolvido com o deus Xyzotlán, dando-lhe boleia apesar da reticência da sobrinha, a narrativa ganha um ritmo muito rápido, bizarro mesmo. Felizmente, os Village People intervêm antes de um concerto em Sidney, e seguimos viagem para Oaxaca.

(wait, what?)

Talvez aqui a história perca um pouco do impacto. Descobrimos o segredo amoroso da vida da avó Elvira, ouvimos Amorcito Corazón no funeral, e Guadalupe resolve a sua vida.

Pontos fracos (para mim): achei as ilustrações de Odyr frequentemente confusas ou "rabiscadas". Embora ache que combinam perfeitamente com a narrativa, não me apelaram muito e, por vezes, distraíam. Também não adorei a parte sobrenatural: achei confusa e não percebi o quanto acrescentou à narrativa. Por último, a família era tão interessante, que gostava de ter sabido mais sobre esses personagens... um maior foco nas relações entre as três gerações teria sido brilhante.

A reter: tal como em Um útero é do tamanho de um punho, a narrativa de Angélica Freitas rejeita os papéis binários de género, mostrando várias maneiras de ser mulher, de ser humano. Isso, para mim, faz com que o livro valha a pena, compensa o ritmo alucinado e desigual do livro. Acho interessante o facto de se passar no México, e de ter pegado nalguns aspectos culturais do país. Também apreciei os elementos de fantástico, apesar de, em partes, parecer um pouco gratuito.

3/5

Podem comprar esta edição aqui.

Comentários

  1. Até referires o hiptnotismo e o deus Xyzotlán estava-me a parecer super prometedor por acaso :p ainda por cima gosto muito de histórias passadas no México mas é assim a vida, não quer dizer que se lesse não gostasse mas mais livros há para ler! Gostei do post no entanto, como sempre

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    Respostas
    1. Mesmo a parte do hipnotismo e do deus é engraçada, a intervenção dos Village People é que é too much for me, confesso :p o livro é muito prometedor e entra naquele género de roadtrip-para-a-descoberta, mas de facto há algo que se perde entre as ilustrações e os elementos de fantástico.
      Que histórias passadas no México recomendas? :p

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    2. Estava mais a pensar em westerns, filmes mas sempre tens as do Tex por exemplo :p

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