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Livros sobre liberdade

Todos os dias são bons para comemorar a liberdade e a democracia, mas hoje é um dia ainda melhor.


A democracia e a liberdade, para mim, reflectem-se no igual tratamento de todos os seres humanos enquanto tal. Sermos livres de sermos quem somos, de fazermos as nossas escolhas pessoais e não sermos perseguidos pelas mesmas. Termos todos igual direito à vida e à dignidade. À nossa voz e às nossas escolhas, em pleno respeito dos outros.

Portugal é um país em que, há 46 anos e um dia, o governo se orgulhava publicamente de ter poupado o país à Segunda Guerra Mundial, como se não estivesse há anos submerso em guerras coloniais várias. Um país com um Tarrafal, com um Aljube, com uma mal esclarecida morte do Carlos Burnay e muita perseguição a muita gente. Onde um homem que assassinasse a esposa estava condenado, no máximo, a seis meses de desterro. Onde estes mesmos maridos é que podiam decidir se a esposa podia ter um carro, sair do país, ou ter uma profissão. Cresci na freguesia onde José Dias Coelho foi impunemente assassinado pela PIDE (posteriormente, à rua, foi dado o seu nome; à sua morte, nunca foi dada justiça).´

Por isso, as minhas recomendações de hoje são livros de índole política, que mostram os males da falta de democracia e de liberdade. Que mostram sociedades onde outros podem ter controlo sobre as nossas vidas. E porque, este ano, estamos todos fechados em casa, são sugestões que mostram o quão pior podíamos estar - e o quão pior o mundo já esteve.


1984, de George Orwell - Começando pela mais óbvia recomendação, 1984 mostra-nos um mundo em que o governo é omnipresente, e a sua violência também. Todas as pessoas e os seus comportamentos são controlados e reprimidos. Até mesmo relações amorosas, que deviam ser da esfera pessoal, como virá a descobrir Winston Smith.
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The Handmaid's Tale, de Margaret Atwood - Outro dos óbvios, até pela série altamente popular. Esta obra retrata uma sociedade em que um grupo toma o poder e decide que pode controlar não só as vidas, mas também os corpos das pessoas, nomeadamente, das mulheres. Há campos de trabalho à la URSS para os dissensores ou para aquelas que simplesmente "não prestarem" para o serviço.
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Afirma Pereira, de Antonio Tabucchi - Este livro difere dos outros por ser um romance que se passa num período que ocorreu verdadeiramente; é a história de um jornalista, Pereira, no final da década de 1930 em Portugal, que se começa a aperceber dos males do sistema político que o rodeia. Que é como quem diz: recomendação altamente pertinente para hoje.
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Diário de Anne Frank - No momento em que tantos se queixam de ver as suas possibilidades de sair de casa e ter momentos de lazer no exterior reduzidas, é importante recordar que há quem tenha vivido num minúsculo anexo para poder sobreviver ao totalitarismo de um Estado com tendências expansionistas e altamente racistas e xenófobas.
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Man's Search for Meaning, de Viktor Frankl - Além das suas considerações sobre psicoterapia e psiquiatria, Viktor Frankl apresenta aqui o dia-a-dia de um prisioneiro de um campo de concentração nazi, mostrando aquilo a que a família de Anne Frank procurara (sem sucesso) escapar. E sim, podem já se ter apercebido - não desperdiço uma oportunidade de impingir este livro.
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The Hunger Games, de Suzanne Collins - Voltando à ficção, nesta trilogia deparamo-nos com um futuro pós-apocalíptico em que uma cidade exerce total controlo político sobre os distritos em seu redor, que explora e submete a um castigo anual, em que dois jovens de cada distrito são seleccionados enquanto sacrifícios para uma espécie de reality show mortífero.
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Twelve Years a Slave, de Solomon Northup - Solomon Northup nascera um homem livre em New York, era violinista, e foi enganado, raptado, levado para New Orleans e vendido como escravo. Durante doze anos a sua família procurou-o. Esta é a sua memória do tempo em que viveu sem liberdade, como propriedade pessoal de outro homem.
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It Can't Happen Here, de Sinclair Lewis - Este é dos meus livros preferidos, um soco no estômago horroroso. Trata aquilo que achamos que nunca aconteceria connosco, no nosso país, e mostra a facilidade com que pode acontecer, através de demagogia e abusos de poder vários, políticos que não passam de fantoches e vinganças mesquinhas. É maravilhoso e devia ser mais lido.
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A Tale of Two Cities, de Charles Dickens - As duas cidades são Londres e Paris e, em Paris, vemos o Terror que tomou conta de França após a Revolução Francesa (ou, como as boas intenções não são suficientes para o sucesso de uma revolução). E, aqui, tal como em Handmaid's Tale, tal como no muito verdadeiro Holocausto, vemos como às vezes o problema é nascer a pessoa errada.
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Novas Cartas Portuguesas, de Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta - um belíssimo retrato do que era a vida durante o Estado Novo, pegando em temas como os direitos das mulheres, legalmente falando, o estatuto das mulheres, socialmente, e as guerras coloniais que na altura assolavam o país. Leitura essencial.
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Ao pessoal que ler isto e gostar de posts de recomendações: dêem dicas. Estou finalmente a actualizar o blog ao fim de dois anos e meio de atrasos patéticos, a ler o Infinite Jest, e não quero que este estaminé fique muito parado nos entretantos. Tenho estado a pensar em mais listas temáticas, e aceito sugestões!

Comentários

  1. Opá eu tinha comentado este post há séculos e entretanto o comentário desapareceu :(
    Era mesmo só para dizer que adoro os teus posts de recomendações e não me importava nada que recomendasses livros por género (ficção científica, histórica, fantasia, etc); graphic novels e bds para quem não as costuma ler; os teus livros preferidos da década (visto que estamos em 2020); biografias e memórias preferidas; clássicos para quem tem medo de clássicos vol. 2; sei que não costumas ler muita poesia, mas apreciava também um round up do que mais gostaste ao longo dos anos; clássicos portugueses escritos por mulheres; não-ficção para quem acha que não-ficção é uma seca; autores preferidos por país/continente; os teus livros sobre livros preferidos; livros por estação do ano; livros longos que se lêem bem, ou livros curtos para ler num dia; recomendar outros livros de um autor "preso" a um só título (tipo o que ler de Fitzgerald depois do Gatsby); recomendações ao estilo 'se gostaste deste livro, pode ser que gostes deste também'; livros que vão ser adaptados para filme ou adaptações em que gostaste mais do filme do que do livro; livros que toda a gente adorou, menos tu; livros preferidos que compraste em viagem e/ou livros que te transportam para uma determinada cidade/país; livros que se passam num só dia; livros de introdução ao feminismo; a tua literatura de viagem preferida; livros sobre escrita e escritores; capas de livros mais bonitas da tua estante; os livros que tens há mais tempo por ler na estante; os teus livros preferidos quando eras criança; livros de leitura obrigatória que adoraste (ou que não gostaste nada); livros com/sobre gatos; etc.

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    Respostas
    1. ai, tantas mas tantas ideias! :) vou anotar tudo!
      obrigada, fico feliz por gostares dos meus posts de recomendações :) não faço muitos porque não quero ser "só mais uma" a fazer listas, mas eu faço-as sempre de raiz e tento sugerir coisas um pouco diferentes :)

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