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Nova Lisboa

É difícil escrever sobre o livro de um amigo.


Mas é para isso que aqui estamos hoje.

Conheço o Alex há vários anos, de lides há muito idas. Há muito que sabia do seu desejo de escrever um livro, tendo chegado a ler alguns dos seus textos - motivo pelo qual este livro me foi algo inesperado (embora o próprio me tivesse anunciado a temática de antemão).

O Alex é originalmente de Setúbal, terra de Choque Frrite, mas radicou-se em Lisboa, como tantos outros que vieram por questões laborais ou de estudo. Eu, pessoalmente, sou nascida e criada em Lisboa - mas, como o Alex, e como muita gente, nos últimos meses dei por mim a viver no subúrbio.

E este livro é um bocado sobre isso. Sobre como uma cidade se estragou e nos expulsou a todos.

Sou uma lisboeta que nunca soube exactamente onde eram ou o que eram os vários tascos históricos que foram fechando e foram ameaçados de fechar por causa dos aumentos das rendas, por prédios comprados e vendidos para outros propósitos ou então demolidos. Sei que estão a recuperar o palacete onde ficava antigamente uma escola para fazer um hotel. Sei que demoliram o restaurante com a fachada bonita na Avenida de Berna, mas não me lembro de como se chamava.

Embora odeie abacate e tostas que o contenham, gosto muito dos cafés que se tornaram abundantes. Adoro o LXFactory. E odeio aquilo em que a Baixa se tornou - comecei a odiar ir às sessões da Cinemateca Júnior pelo ambiente que circunda o Palácio Foz. Uma vez tive de mudar de direcção nas Amoreiras porque havia um grupo de turistas asiáticos a empatar o corredor.

E agora vivo e trabalho no subúrbio e nunca me senti tão afastada da cidade onde cresci (e onde permanece a minha residência fiscal). Nem quando trabalhei no estrangeiro.

O livro é composto de episódios curtos - alguns surrealistas, com Madonna e tasco-terroristas, outros de tom muito mais plausível. Não é um romance - o Alex diz que é um roteiro turístico sobre a cidade em que Lisboa se transformou. Infelizmente, digo eu, não é um romance. Não é ficção.

Não faz mal, mesmo, dizemos que viemos ver os turistas, já estávamos fartos dos parquímetros, da emel e da epal, de tantos vizinhos betos intragáveis. Talvez um dia consigamos viver todos em Lisboa, talvez a cidade nos aceite de volta quando precisar de nós.

E sabem o que é particularmente estranho? Ter feito esta leitura nesta altura - numa altura em que todas as imagens que nos chegam de Lisboa são de uma cidade vazia, de uma Rua Augusta ou de um Largo dos Restauradores que não estão intransitáveis de tão populados.

4/5

Podem comprar esta edição directamente ao autor.

Comentários

  1. Nascida na Estefânia e criada no subúrbio até aos dias de hoje, portanto, despromovida logo ao 3º dia de vida. Mas para mim Lisboa é aquele sítio onde sempre me pus em 25 minutos, não me deixe a CP ficar mal, e que conheço desde o Alto de São João até a Sta. Apolónia. Só zonas chiques, eu sei! :-) Acho que é mais fácil do que vir para o exílio em adulta, como tu. Fui à BLX do Camões na semana anterior às escolas fecharem, e consegui andar no passeio à minha velocidade natural sem vociferar entre dentes. Soube-me bem!
    Paula

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    Respostas
    1. Nasci em São Francisco Xavier e vivi na zona Ocidental de Lisboa toda a minha vida até Novembro do ano passado, excluindo os dois meses que vivi no 1ère arrondissement de Paris (zonas ainda mais chiques!) - é estranho, acima de tudo. Estava habituada a ter autocarros à porta para qualquer lado que me interessasse e agora conheço a Vimeca :)
      Acredito que tenha sido maravilhoso - quase tenho vontade de sair de casa, feita louca, só para passear por Lisboa nestes dias!

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