A vida de Van Gogh em novela gráfica!
Ou vá, os últimos anos da sua vida. Eu tinha de ter este livro. Adoro o Van Gogh - fui à exposição Van Gogh Alive na Cordoaria Nacional, fui ver Loving Vincent ao cinema, fui quase a correr à ala Van Gogh no Rijksmuseum e fui mais de uma vez ao d'Orsay de propósito para poder ver a sua obra, planeei uma viagem a Auvers-sur-Oise que acabou por não acontecer. Portanto, em visita ao Van Gogh Museum, sabia que precisava de adquirir este livro.
A artista e escritora holandesa Barbara Stok é mais uma de muitos que se inspiram na vida tortuosa de Vincent Van Gogh, e leva-nos numa viagem ao período intenso que o pintor passou em França, não só em Auvers-sur-Oise mas também em Arles, no Sul, sustentado pelo irmão. Ou seja, os últimos anos da sua vida.
Vincent Van Gogh é-nos apresentado como sendo apaixonado pela arte, e sonha em criar uma casa de artistas em Arles, uma casa amarela, para si e para os seus amigos. Vemos a sua enorme paixão, a forma como leva a sua vida, sendo a pintura e a produção artística o centro de cada dia (dois vizinhos discutem as horas que Vincent dedica, dando a entender que Vincent crê que eles não levam a arte a sério). Mas a sua paixão leva a grandes crises, e as suas crises mentais confundem-no e desorientam-no, levando a uma forte discussão com Gauguin (o único que aceitara o seu convite, persuadido por Theo) e ao famoso incidente da orelha.
Vemos os seus problemas mentais manifestar-se, quando o mundo se torna demasiado para aguentar. A narrativa fica fracturada, fragmentada. A forma como estes momentos nos são apresentados - especialmente o da orelha - é de uma sensibilidade enorme. É tudo deixado em aberto, apenas graficamente representado para que se possa sentir essa confusão e desarmamento. Parece que Vincent navega por um sonho. Um sonho mau, do qual não consegue acordar.
Os ambientes que Barbara Stok nos mostra são os dos quadros mais conhecidos de Van Gogh, e há excertos da sua correspondência com o irmão, Theo, para que possamos entrar na mente do pintor. Vemos também como Theo, o irmão mais novo de Vincent, o apoiou sempre, incondicionalmente, a nível financeiro e emocional. Gosto muito da relação entre ambos: Theo, comerciante de arte, apresentou vários artistas ao irmão, lutou sempre pelo reconhecimento de Vincent, e acabou por morrer seis meses após a trágica morte de Van Gogh. Gostava muito de, um dia, ler a correspondência entre ambos, compilada por Johanna, esposa de Theo.
Mas adiante.
Vincent Van Gogh era intenso, e viveu a sua vida com intensidade, levou a sua arte com toda a intensidade, da única forma como conseguia. E nunca desistiu de acreditar no que fazia, porque acreditou no que fazia, até ao fim. É doloroso, porque sabemos tudo o que sacrificou, tudo o que deixou para trás e, na sua história, a sua dor é palpável. Ele sabia o que era certo para ele, e continuou a pintar, mesmo quando não tinha mais cores, mesmo quando não tinha mais alegria. Nunca desistiu. E deixou um legado enorme.
A arte, embora "cartoony", aproxima-nos do ponto de vista do próprio Van Gogh durante este período conturbado. As imensas referências às suas obras são um deleite, bem como os excertos da correspondência, com timings brilhantes: Stok sabe quando dar lugar ao texto.
E as últimas páginas são magníficas. A sensibilidade sobre os últimos dias de Vincent (e Theo) é enorme.
5/5 não consigo recomendar o suficiente
Eu comprei o meu no Van Gogh Museum, mas podem comprar esta edição aqui (e fica mais barato).
Já tinha imensa vontade de ler esta graphic novel mas depois de ler a tua review e de ver algumas imagens, fiquei ainda mais com o «bichinho». Van Gogh nunca foi o meu pintor de eleição mas admiro todos os artistas e adoro ver filmes sobre eles e explorar a sua biografia. Saber o que vai na mente dos mais aclamados génios (de todas as áreas) é essencial para os conseguir perceber, perceber a sua arte e dar-lhe o devido valor. Não apenas como criadores de peças valiosas mas, essencialmente, pessoas que marcaram uma época e um estilo. Tenho cá A Casa Amarela, de Martin Gayford para ler. Confesso que não dedico muito tempo a ler não-ficção e, por isso, ainda não lhe peguei. Seja como for, se gostas de Van Gogh sinto-me no dever de, como ex-livreira, te recomendar esse livro, caso ainda não o tenhas lido ^^
ResponderEliminarUm beijinho,
Joana
panemicbooks.blogspot.com
As imagens são o que faz este livro em particular tão especial: a forma como, apesar do aspecto "infantil", fazem uma enorme homenagem a Van Gogh, à sua obra, à forma como ele explorou as cores. É lindíssimo!
EliminarO Van Gogh é um dos meus pintores de eleição, que adoro ridiculamente (o outro é o Monet - fui visitar os jardins dele em finais de Outubro, para perceberes esse outro nível, e foi outro dos motivos para eu ir repetidamente ao d'Orsay). Há artistas que me interessam mais que outros, e o facto de um homem tão atormentado ter feito quadros tão luminosos, tão cheios de vida, nunca irá parar de me impressionar. Van Gogh sentia tudo ao máximo - a sua dedicação era ao máximo, o amor pelo irmão, mas também a sua dor...
Também não me dedico muito à não-ficção e, como tal, nem sequer conhecia esse livro! Anotadíssimo. Também gosto muito do Gauguin - tive a sorte de ver uma exposição especial dele há pouco mais de um ano e fiquei muito impressionada.
Beijinhos! :) e pega neste livro, é lindíssimo!
Casa amarela :p
ResponderEliminarBela foto como introdução e belíssimo post, com tanta paixão! Quero muito ler este livro
Os desenhos são super flofis, deve ser um livro muito bonito
Algumas das cartas que falas consegues encontrar na net também :p
Ele, como dizes, deixou um legado enorme sem dúvida, em quantidade e qualidade
Dos meus pintores favoritos, que privilégio já ter visto algumas das suas obras ao vivo
A exposição do Van Gogh Alive foi muito boa também! Muito diferente, original, guardo essa memória com muito carinho
EliminarTal como quando fomos ver o Loving Vincent ao cinema, e quando me deste mais tarde o dvd, que filme tão tão bom, também ele muito original
Que saudades de ir ao Musée d'Orsay, quem me dera ir lá sempre que quissesse
A vida, os quadros do Van Gogh, são tão especiais
Tens algum quadro favorito dele? :p
*quisesse
EliminarJá que estou a corrigir o meu erro aproveito para perguntar também qual o livro desta colecção de novelas gráficas que tens mais curiosidade em ler depois deste? :p
Casa amarela :p
EliminarÉ de facto um livro muito bonito, sinto que captura muito bem aquela que deve ter sido a vida do Vincent Van Gogh!
Mas eu não quero encontrar as cartas na net, quero ler o livrinho :$$$$ um dia :p
Em qualidade e quantidade sim, foi um artista muito prolífico, também pela sua obsessão em fazer mais, em fazer melhor, e em poder pagar ao irmão :(
É um privilégio enorme ver os seus quadros e as suas cores ao vivo, tive muita sorte em muitos momentos! Especialmente no número de vezes que pude ir ao d'Orsay.
O Loving Vincent está muito bonito :p o carteiro aparece neste livro! Que trata aliás de alguns dos mesmos momentos, o Gauguin, a orelha, o médico em Auvers-sur-Oise...
Gosto muito dos almond blossoms que pintou para o sobrinho, e tu? Starry night? :p
Não tenho mais nenhum da colecção dos Art Masters! :( mas o do Gauguin I guess :p
É-me impossível dizer, toda a obra dele me fascina, é magnifica mesmo
EliminarE do Gauguin tens algum favorito? :p
Blue trees :p e as suas viagens ao Taiti!
EliminarPercebo bem essa paixão por Van Gogh. Também adorei o Loving Vincent e também fui ver a exposição que referes. Fui de propósito ao Pinakothek quando estava em Munique para puder ver os girassóis. Agora que falas nisso, o livro das correspondências entre ele e o irmão está na minha wishlist há que tempos.
ResponderEliminarEscusado será dizer que adorei a review e vou comprar este livro asap :)
Se partilhas da paixão, então este livro é para ti :) é muito bonito e tocante.
EliminarEu vi uma outra versão dos girassóis em Londres, e ainda outra em Amesterdão :) adoraria ler a correspondência!